quinta-feira, 10 de junho de 2010

[PDES] Conheça o terceiro setor em 12 tópicos

16/12/2003 - 03h08
Conheça o terceiro setor em 12 tópicos
ANDRÉS PABLO FALCONER
especial para a Folha de S.Paulo

1. Não se sabe ao certo o tamanho do terceiro setor no Brasil, mas estima-se que ele seja composto por bem mais de 200 mil organizações. Segundo uma pesquisa de 1995, ele emprega pelo menos 1 milhão de pessoas e um número ainda maior de voluntários. O setor, invisível nas estatísticas oficiais, tem grande importância econômica.

2. A diversidade é realmente a cara do terceiro setor: há organizações religiosas e laicas, políticas e apolíticas, locais e globais, e elas atuam em áreas como saúde, educação, ambiente, cultura, esporte, ciência, habitação e assistência social. Às vezes, questiona-se a fragmentação e a pulverização das iniciativas do terceiro setor, mas essa característica é um retrato da sociedade brasileira. O terceiro setor resiste a esforços de coordenação central. Diversidade é um aspecto a ser celebrado.

3. As diferentes "tribos" do terceiro setor se reúnem em redes e instituições associativas que se organizam por áreas de atuação ou por tipos de organização. Assim, muitas das mais tradicionais ONGs de promoção de direitos da cidadania e de apoio a movimentos populares filiam-se à Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (www.abong.org.br). Entidades filantrópicas se reúnem em torno da Rede Brasileira de Entidades Assistenciais Filantrópicas (www.terceirosetor.org.br), e fundações e institutos vinculados a empresas aglutinam-se em torno do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (www.gife.org.br).

4. Nem tudo são flores: é comum noticiarem-se casos de desvio de dinheiro de doações, de não-cumprimento de padrões mínimos de qualidade de atendimento e até de organizações criadas para fins ilícitos. Se essas são exceções em meio a uma maioria de organizações idôneas e comprometidas, elas nos lembram da necessidade de ter cautela e de buscar informação antes de fazer uma doação à primeira instituição de caridade que bate à porta.

5. Muitas ONGs abraçam causas menos populares, frequentemente colocando-se em posição contrária a interesses econômicos e até à opinião pública. São alguns exemplos: os direitos humanos da população carcerária e dos adolescentes infratores, a demarcação de terras indígenas em áreas de conflito rural e a oposição à construção de barragens ou estradas em nome da preservação ambiental ou do interesse de populações tradicionais. É por isso que esse setor tem uma relação nem sempre harmônica com a classe política e com os governos.

6. O terceiro setor pratica a solidariedade, a caridade e a filantropia, mas busca se afastar de um legado de assistencialismo —uma prática social que gera a dependência do beneficiário, perpetuando a pobreza e a desigualdade. As ações do terceiro setor tipicamente ocorrem em uma escala pequena e local, mas nem por isso ineficaz. O mosaico de organizações do terceiro setor forma uma rede informal de proteção social no mínimo comparável ao Estado.

7. Influenciar políticas públicas é o objetivo a que se propõem muitas organizações de ponta. Além de oferecerem serviços, elas fiscalizam, complementam e apóiam a ação de governos. Além disso, funcionam como laboratórios de inovação social, como canais de participação social e como formadores de nova liderança. A experiência internacional mostra que, onde o terceiro setor é mais forte, o Estado é mais presente e eficaz, contrariando a crença de que o setor visa substituir o Estado.

8. Atuar no terceiro setor requer preparo e convicção. Se uma carreira profissional no terceiro setor não é mais sinônimo de sacerdócio, é necessário estar atento às características da área antes abrir mão de um emprego em outra parte. As portas de entrada são muitas, mas geralmente informais. Dificilmente publicam-se anúncios de emprego nos jornais. A remuneração na maioria das organizações é menor do que no setor privado, e os benefícios, limitados. A jornada de trabalho não é mais curta. Mas muitos profissionais acham que a contrapartida é a maior satisfação no trabalho.

9. O voluntariado é a melhor porta de entrada para o terceiro setor. Embora muitas entidades estejam despreparadas para receber voluntários, há muitas que dependem da doação de tempo das pessoas. O melhor caminho é buscar o centro de voluntariado de sua cidade, buscar indicações de amigos ou procurar entidades em que confie. Consulte, por exemplo, o endereço www.facaparte.org.br ou o www.voluntariado.org.br.

10. A terminação ".org" designa endereços na internet para organizações sem fins lucrativos. A Rede de Informações para o Terceiro Setor (www.rits.org.br) é um dos portais mais visitados e publica semanalmente uma revista eletrônica com anúncios de cursos, empregos e oportunidades. O Portal do Voluntário (www.portaldovoluntario.org.br) mobiliza uma rede nacional de centros de voluntariado, muitos dos quais têm seus próprios sites. A maioria das organizações mais estruturadas também mantém suas páginas na rede.

11. Em língua portuguesa, existem poucas publicações sobre o tema que podem ser encontradas em livrarias. Rubem César Fernandes, Leilah Landim, Rosa Maria Fischer e Simone Coelho são alguns autores brasileiros com livros publicados. Com o aumento da procura e do número de pesquisas, essa situação vem se revertendo aos poucos. Em inglês, as opções são inúmeras, normalmente usando no título as expressões "nonprofit", "voluntary" ou "civil society sector".

12. Não há uma formação específica para atuar no terceiro setor. Uma boa formação geral, valores morais sólidos e vivência parecem contar mais. Entretanto, nos últimos anos multiplicaram-se os cursos de capacitação para esse campo. Em São Paulo, destacam-se os cursos oferecidos pela FGV (www.fgvsp.br/cets) e pela USP, por meio do Ceats (www.ceats.org.br). Neste ano, eles lançaram o primeiro curso de MBA em gestão e empreendedorismo social.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u685.shtml